terça-feira, 24 de abril de 2012

Boicotes Terapêuticos


Ao longo da vida observamos o curso natural de nossas fantasias humanas, reais tão irreais na arte da convivência e do conviver.

Há beleza das relações e beleza nas relações, algo que nos conecta e ilusoriamente nos desconecta de nos mesmos e do outro. Navegamos na dependência, a independência, escolhemos entre esses extremos um porto seguro, e quando realmente seguros, descobrimos que não há porto seguro, e sim o redescobrir da interdependência.

Uma profunda interação existencial que espiritualmente nos conecta uns aos outros e a vida como um todo. Por vezes seguimos com a arte de nos confundir, e com maestria nos confundimos num emaranhado, que aqui elucidamos enquanto boicotes terapêuticos.

Desenvolvemos mecanismos de defesas e artimanhas, até chegar ao ponto em que não mais sabemos do que, de quem, por que ou para quem estamos fugindo. Daí a sensação de que há certa magia e cor no movimento em que o que nos desconecta nos conecta, e o que nos conecta nos desconecta.

Do nosso envolvimento com o outro enquanto “pedestal” “superior” “salvador” “completude”, o vácuo do crer-se incompleto, sempre em falta, a falta, e o possível enredo da vivência e experiência da relação balizada pela cultura e mentalidade hierárquica.

No contexto das relações, podemos visualizar a comum Serra com Neblina que comumente dificulta enxergar com "o que" e "com quem" estamos nos relacionando, no sentido da forma e dos valores implícitos e explícitos no “nosso modo de ser e estar” e “do ser e estar do outro”.

O discernimento quando se faz oculto, torna comum em nós a debilidade para distinguir com lucidez "o que somos", de “quem estamos sendo", "o que temos", "do que somos", os papeis e funções que exercemos; assim como o nosso próximo. Logo nem sempre se faz lúcido “o quê” e “como” estamos desejando e ou sendo desejados, como e quando estamos genuinamente nos relacionando, se há e qual a relação, se estamos passivos, reativos e ou proativos, o quanto participamos e quanto interagimos conosco, com o outro, com o viver e conviver, e com a vida.

Tornar-se dependente ou codependente nas relações é algo tão comum, que se incorre no equivoco da banalização da essência humana e da vida. Quanto mais assumimos posturas e posições hierárquicas, maior se torna o espaço para as confusões e projeções, a transferência de responsabilidades e papeis, o descompromisso com o compromisso da nossa própria essência, e daquilo que é essência, o ser reativo e ofuscar-se no emaranhado de justificativas de artificial imposição a si ou ao outro, passa a ser natural, daí o irreal-real.

Ao nos debruçarmos sobre nós mesmos, podemos refletir sobre como se dá as relações em nossas vidas e como nos relacionamos com a vida. No insight é possível trazer a luz, simples e profundos conceitos, tais como:
  1. Apaixonamos-nos pelo outro e ou pelo jeito de ser do outro?
  2. O outro se apaixonou por nós ou pelo nosso jeito de ser e o que representamos a ele?
  3. Apaixonamos-nos pelo jeito de ser do outro e ou pelo jeito que o outro nos trata?
  4. O outro se apaixonou por nós ou pelo jeito que o tratamos?
  5. Somos dependentes do outro e ou do papel e sentido que damos ao outro em nossa vida?
  6. O outro é dependente de nós ou do papel e sentido que damos ao estar na sua vida?
  7. Quem sou eu e quem é você nessa relação?
  8. O que rege nossas relações à complementaridade ou a completude?
Reflexões essas que já pontuamos em outras ocasiões, e que sempre emergem e valem a revisitação.

Boicotes terapêuticos no sentido do encontro e desencontro da ambivalência que reluzem estados de: autossuficiência e submissão; reatividade e passividade. Terapêuticos por se darem em doses homeopáticas e por vezes alopáticas. Poderíamos classificá-los enquanto armadilhas que nos tiram de nós mesmos e nos impõe a outrem ou seria muita prepotência assim considerar?

As conexões com a vida são reflexos da nossa interação conosco, com outras pessoas e com a natureza?

Aqui estamos nos referindo as “cotidianas” e “conhecidas” situações da paixão e do desejo por algo ou alguém idealizado. Nada novo quando nos referimos a relação com poder “desigual” entre terapeuta e paciente, professor e aluno, médico e paciente, chefe e subordinado, e etc. Por que será que isso acontece? Uma questão química? Uma motivação psicológica? Um impulso meramente instintivo?

Pesquisas e Estudos já apontaram tantas razões para esse contexto, estudiosos e profissionais da área da psicologia, sociologia, psiquiatria e tantos outros, já abordam o aspecto do envolvimento e das motivações para supostos envolvimento e ou comprometimento com o que o outro representa ou aparenta representar. No entanto por que o ciclo permanece?

Por vezes em algumas oportunidades de escuta, observação e interação com pessoas; fluímos nas conexões que saltam aos olhos por revelar certos padrões, daí a reflexão. Vamos navegando nos valores, vícios e virtudes, navegando da vaidade nociva a benévola, do orgulho nocivo ao benévolo, do ego libertador ao ego aprisionador, são tantas sensações, tantas peças para o mosaico, que fazem emergir perguntas...
  1. Seriam boicotes terapêuticos?
  2. Alimento a codependência?
  3. O alimento é a fome e a fome é o alimento?
  4. O “carente dependente” é quem gera a fantasia ou quem é receptivo e a alimenta?
  5. Por que existem pessoas que conseguem facilmente perceber quando estão confundindo ou deixando-se confundir e outras não? Será isso mesmo?
  6. Por que algumas pessoas conseguem diferenciar a paixão pelo que o outro representa ou apresenta, da paixão pelo outro em si?
  7. Terceirização da responsabilidade de si?
  8. Projeção?
  9. Quando a dignidade humana se perde, é que também se transfere ao outro as rédeas e o sentido da própria vida?
  10. Formas para perder-se de si e reencontrar-se?
  11. Ofícios naturais da natureza ou ofícios da artificialidade criada pela espécie humana?
  12. Quem sou eu e quem é você para dizermos que esta certo ou errado?
Podemos sinalizar pelo intuir e vivenciar, que há outras peças e cores no mosaico, ora facilitar a composição da melodia é confiar na tênue intensidade do arco-íris.

Se olharmos ao nosso redor, é possível perceber que há ciclos, conexões e interações, uma frequente sinalização que nos impulsiona a constatar a existência de diferentes frequências que alimentam a complementaridade da vida. E aqui não estamos nos referindo ao limitar-se ao chavão popular do sentido generalizado para “a tampa da sua panela” e ou “alma gêmea”, vamos a algo além, desse além dentro e fora de nós.

Do Lobo Faminto ao Lobo Alimentado – Do Cavalo Selvagem ao Cavalo Adestrado, cada qual com o seu viço, momento, estado e estágio. Sê somos essencialmente Organismos Vivos interdependentes e conectados com a Vida e toda sua Natureza, olhando os “animais” e a diversidade de “espécies da natureza”, é possível “constatar”que de faminto, podemos apenas estar com fome, ou apenas saber que é chegado o momento de refazer as energias, nutrir-se, aceitar a renovação dos ciclos, considerar a mudança de estação, compreender as fases da lua, respeitar os ciclos da maré, a sinergia entre fogo, ar, terra e água.

A constatação da interdependência, o sentir a complementaridade, a mágica surpresa que sentimos quando nos descobrimos em sinergia de pensamentos, sentimentos, sensações e intuições com pessoas e espécies conhecidas e desconhecidas.

No contraponto o fácil e emergente condenar popular ou especifico para as projeções, fantasias, transferências, transgressões e fantasias. E algo interessante e sempre semelhante emerge do âmago quando observamos tais contextos, o paradoxo.
  • O problema não está no outro te endeusar, e sim no que você faz desse endeusamento.
  • O problema não está no outro alimentar e ou rejeitar o seu endeusamento por ele; e sim no que você fará desse alimento ou rejeição.
E isso pode ser ou não um problema. Pode ser ou não uma solução. Tudo depende...

Uma linha tênue e tão gritante salta aos olhos, algo para além da Ética e dos Valores, a revelar-se no contexto a forma em que se dá, se alimenta, e se nutre as relações humanas e sua interação, consigo e com o próximo.
  • Sugamos e somos sugados?
  • Alimentamos e somos alimentados?
  • Aprisionamos e somos aprisionados?
Há interesse em alimentar os Boicotes Terapêuticos do outro para conosco e vice versa? Qual interesse? Quais os valores envolvidos nessas relações, participações e interações?

Estarmos atentos ao que nos move e impulsiona a estimular ou desestimular no outro a fuga de si, pela paixão e endeusamento não pelo que somos e sim pelo que a ele representamos nos papeis sociais que exercemos, é algo que transcende a hombridade.

Se não está em nossas mãos o controle sobre o que outro sente ou deixa de sentir por nós, certamente os nossos comportamentos, escolhas, atitudes e valores, a postura da clareza ou não para regular a relação e nos autorregular estão.

Sempre “brinco” que para além da desonestidade intelectual, reflexo das nossas mazelas e debilidades, há também a nossa honestidade espiritual, que sinaliza a necessidade emergente ou não da clareza da relação.
  1. Quer alimentar o clima de sedução? Simples, assim: Faz de conta que não está percebendo e ou outro faz de conta que não está sentindo, e vez ou outra vá invertendo as posições.
  2. Quer alimentar a clareza da relação? Simples, assim: - É impressão minha ou (...)? Converse, seja claro e comunique o que está sentindo, intuindo e percebendo para então constatar e escolher que tipo de relação deseja manter e ou estabelecer da li pra frente.
  3. Quer ir além, e nutrir relações genuínas e interação de corpo e alma? Que tal no encontro de si, nutrir o autoconhecimento, ajudando-se a dar menos importância ao si mesmo, no sentido do “se achar” e sim genuinamente “se reconhecer”.

E rogamos, que por amor, atente-se ao próprio discernimento e ao que verdadeiramente faz sentido a ti, ao salientar o pedido: não confunda o que estamos a refletir com moralismos, dogmas, certo, errado, tem quê, pode ou não pode, jeito certo e errado de se relacionar, vida monogâmica, vida em castidade e etc. Estamos nos referindo a algo que transcende aos padrões, regras e processos criados por alguns homens e aceitos por nós; logo por gerações e gerações alimentados e nutridos por nós enquanto indivíduos, coletividade e sociedade.

Por que é assim? Para que é assim? Fez sentido? Continua fazendo sentido? Para que? Para quem? E pra mim? E pra você? E pra nós? Como? Quando? Onde?

Seriam formas de manter, roubar ou controlar o poder "nosso - do outro" e "em nós - no outro", roubando-nos, nos deixando roubar e ou roubando ou tentando roubar o outro do "si mesmo", não se sabe o quê e nem o porquê e ou se sabe?

E na lucidez libertar-se libertando o outro, e é então que genuinamente se aprisiona ao que lhe faz liberto. Por conectado estar, responsável se dá por livre ser, comprometido interage em vida e morte - com a vida e morte. Liberdade emergende que a lucidez se revela em desenvolvimento nos valores humanos e espirituais, considerando-se a si e aos outros, como são e ou estão, em "construção".

Fraterno abraço,

Elaine Souza – SP. 24/04/2012 – 18h10min

Coração Saudoso

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