Ao longo da vida
observamos o curso natural de nossas fantasias humanas, reais tão irreais na
arte da convivência e do conviver.
Há beleza das relações e beleza nas relações, algo
que nos conecta e ilusoriamente nos desconecta de nos mesmos e do outro.
Navegamos na dependência, a independência, escolhemos entre esses extremos um
porto seguro, e quando realmente seguros, descobrimos que não há porto seguro,
e sim o redescobrir da interdependência.
Uma profunda interação existencial que
espiritualmente nos conecta uns aos outros e a vida como um todo. Por vezes
seguimos com a arte de nos confundir, e com maestria nos confundimos num
emaranhado, que aqui elucidamos enquanto boicotes
terapêuticos.
Desenvolvemos mecanismos de defesas e artimanhas,
até chegar ao ponto em que não mais sabemos do que, de quem, por que ou para
quem estamos fugindo. Daí a sensação de que há certa magia e cor no movimento
em que o que nos desconecta nos conecta, e o que nos conecta nos desconecta.
Do nosso envolvimento com o outro enquanto
“pedestal” “superior” “salvador” “completude”, o vácuo do crer-se incompleto,
sempre em falta, a falta, e o possível enredo da vivência e experiência da
relação balizada pela cultura e mentalidade hierárquica.
No contexto das relações, podemos visualizar a
comum Serra com Neblina que comumente dificulta enxergar com "o que"
e "com quem" estamos nos relacionando, no sentido da forma e dos
valores implícitos e explícitos no “nosso modo de ser e estar” e “do ser e
estar do outro”.
O discernimento quando se faz oculto, torna comum
em nós a debilidade para distinguir com lucidez "o que somos", de
“quem estamos sendo", "o que temos", "do que somos",
os papeis e funções que exercemos; assim como o nosso próximo. Logo nem sempre
se faz lúcido “o quê” e “como” estamos desejando e ou sendo desejados, como e
quando estamos genuinamente nos relacionando, se há e qual a relação, se
estamos passivos, reativos e ou proativos, o quanto participamos e quanto
interagimos conosco, com o outro, com o viver e conviver, e com a vida.
Tornar-se dependente ou codependente nas relações é
algo tão comum, que se incorre no equivoco da banalização da essência humana e
da vida. Quanto mais assumimos posturas e posições hierárquicas, maior se torna
o espaço para as confusões e projeções, a transferência de responsabilidades e
papeis, o descompromisso com o compromisso da nossa própria essência, e daquilo
que é essência, o ser reativo e ofuscar-se no emaranhado de justificativas de
artificial imposição a si ou ao outro, passa a ser natural, daí o irreal-real.
Ao nos debruçarmos
sobre nós mesmos, podemos refletir sobre como se dá as relações em nossas vidas
e como nos relacionamos com a vida. No insight é possível trazer a luz, simples
e profundos conceitos, tais como:
-
Apaixonamos-nos
pelo outro e ou pelo jeito de ser do outro?
-
O outro se
apaixonou por nós ou pelo nosso jeito de ser e o que representamos a ele?
-
Apaixonamos-nos
pelo jeito de ser do outro e ou pelo jeito que o outro nos trata?
-
O outro se
apaixonou por nós ou pelo jeito que o tratamos?
-
Somos dependentes
do outro e ou do papel e sentido que damos ao outro em nossa vida?
-
O outro é
dependente de nós ou do papel e sentido que damos ao estar na sua vida?
-
Quem sou eu e quem
é você nessa relação?
-
O que rege nossas
relações à complementaridade ou a completude?
Boicotes terapêuticos no sentido do encontro e
desencontro da ambivalência que reluzem estados de: autossuficiência e
submissão; reatividade e passividade. Terapêuticos por se darem em doses
homeopáticas e por vezes alopáticas. Poderíamos classificá-los enquanto
armadilhas que nos tiram de nós mesmos e nos impõe a outrem ou seria muita
prepotência assim considerar?
As conexões com a vida são reflexos da nossa
interação conosco, com outras pessoas e com a natureza?
Aqui estamos nos referindo as “cotidianas” e
“conhecidas” situações da paixão e do desejo por algo ou alguém idealizado. Nada
novo quando nos referimos a relação com poder “desigual” entre terapeuta
e paciente, professor e aluno, médico e paciente, chefe e subordinado, e etc.
Por que será que isso acontece? Uma questão química? Uma motivação psicológica?
Um impulso meramente instintivo?
Pesquisas e Estudos já apontaram tantas razões para
esse contexto, estudiosos e profissionais da área da psicologia, sociologia,
psiquiatria e tantos outros, já abordam o aspecto do envolvimento e das
motivações para supostos envolvimento e ou comprometimento com o que o outro
representa ou aparenta representar. No entanto por que o ciclo permanece?
Por vezes em algumas oportunidades de escuta,
observação e interação com pessoas; fluímos nas conexões que saltam aos olhos
por revelar certos padrões, daí a reflexão. Vamos navegando nos valores, vícios
e virtudes, navegando da vaidade nociva a benévola, do orgulho nocivo ao
benévolo, do ego libertador ao ego aprisionador, são tantas sensações, tantas
peças para o mosaico, que fazem emergir perguntas...
-
Seriam boicotes terapêuticos?
-
Alimento a codependência?
-
O alimento é a fome e a fome é o alimento?
-
O “carente dependente” é quem gera a fantasia ou
quem é receptivo e a alimenta?
-
Por que existem pessoas que conseguem facilmente
perceber quando estão confundindo ou deixando-se confundir e outras não? Será
isso mesmo?
-
Por que algumas pessoas conseguem diferenciar a
paixão pelo que o outro representa ou apresenta, da paixão pelo outro em si?
-
Terceirização da responsabilidade de si?
-
Projeção?
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Quando a dignidade humana se perde, é que também se
transfere ao outro as rédeas e o sentido da própria vida?
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Formas para perder-se de si e reencontrar-se?
-
Ofícios naturais da natureza ou ofícios da
artificialidade criada pela espécie humana?
-
Quem sou eu e quem
é você para dizermos que esta certo ou errado?
Se olharmos ao nosso redor, é possível perceber que
há ciclos, conexões e interações, uma frequente sinalização que nos impulsiona
a constatar a existência de diferentes frequências que alimentam a
complementaridade da vida. E aqui não estamos nos referindo ao limitar-se ao
chavão popular do sentido generalizado para “a tampa da sua panela” e ou “alma
gêmea”, vamos a algo além, desse além dentro e fora de nós.
Do Lobo Faminto ao Lobo Alimentado – Do Cavalo
Selvagem ao Cavalo Adestrado, cada qual com o seu viço, momento, estado e
estágio. Sê somos essencialmente Organismos Vivos interdependentes e conectados
com a Vida e toda sua Natureza, olhando os “animais” e a diversidade de
“espécies da natureza”, é possível “constatar”que de faminto, podemos apenas
estar com fome, ou apenas saber que é chegado o momento de refazer as energias,
nutrir-se, aceitar a renovação dos ciclos, considerar a mudança de estação,
compreender as fases da lua, respeitar os ciclos da maré, a sinergia entre
fogo, ar, terra e água.
A constatação da
interdependência, o sentir a complementaridade, a mágica surpresa que sentimos
quando nos descobrimos em sinergia de pensamentos, sentimentos, sensações e
intuições com pessoas e espécies conhecidas e desconhecidas.
No contraponto o fácil e emergente condenar popular
ou especifico para as projeções, fantasias, transferências, transgressões e
fantasias. E algo interessante e sempre semelhante emerge do âmago quando
observamos tais contextos, o paradoxo.
-
O problema não está no outro te endeusar, e sim no que você faz desse endeusamento.
-
O problema não está no outro
alimentar e ou rejeitar o seu endeusamento por ele; e sim no que você fará
desse alimento ou rejeição.
Uma linha tênue e tão gritante salta aos olhos,
algo para além da Ética e dos Valores, a revelar-se no contexto a forma em que
se dá, se alimenta, e se nutre as relações humanas e sua interação, consigo e
com o próximo.
- Sugamos e somos sugados?
- Alimentamos e somos alimentados?
- Aprisionamos e somos aprisionados?
Estarmos atentos ao que nos move e impulsiona a
estimular ou desestimular no outro a fuga de si, pela paixão e endeusamento não
pelo que somos e sim pelo que a ele representamos nos papeis sociais que
exercemos, é algo que transcende a hombridade.
Se não está em nossas mãos o controle sobre o que
outro sente ou deixa de sentir por nós, certamente os nossos comportamentos,
escolhas, atitudes e valores, a postura da clareza ou não para regular a
relação e nos autorregular estão.
Sempre “brinco” que
para além da desonestidade intelectual, reflexo das nossas mazelas e
debilidades, há também a nossa honestidade espiritual, que sinaliza a necessidade
emergente ou não da clareza da relação.
-
Quer alimentar o clima de sedução?
Simples, assim: Faz de conta que não está percebendo e ou outro faz de conta
que não está sentindo, e vez ou outra vá invertendo as posições.
-
Quer alimentar a clareza da relação?
Simples, assim: - É impressão minha ou (...)? Converse, seja claro e comunique
o que está sentindo, intuindo e percebendo para então constatar e escolher que
tipo de relação deseja manter e ou estabelecer da li pra frente.
-
Quer ir além, e nutrir relações
genuínas e interação de corpo e alma? Que tal no encontro de si, nutrir o
autoconhecimento, ajudando-se a dar menos importância ao si mesmo, no sentido
do “se achar” e sim genuinamente “se reconhecer”.
E rogamos, que por amor, atente-se ao
próprio discernimento e ao que verdadeiramente faz sentido a ti, ao salientar o pedido: não confunda o que estamos a refletir com
moralismos, dogmas, certo, errado, tem quê, pode ou não pode, jeito certo e
errado de se relacionar, vida monogâmica, vida em castidade e etc. Estamos nos
referindo a algo que transcende aos padrões, regras e processos criados por
alguns homens e aceitos por nós; logo por gerações e gerações alimentados e
nutridos por nós enquanto indivíduos, coletividade e sociedade.
Por que é assim? Para que é assim? Fez sentido?
Continua fazendo sentido? Para que? Para quem? E pra mim? E pra você? E pra
nós? Como? Quando? Onde?
Seriam formas de manter, roubar ou controlar o
poder "nosso - do outro" e "em nós - no outro",
roubando-nos, nos deixando roubar e ou roubando ou tentando roubar o outro do
"si mesmo", não se sabe o quê e nem o porquê e ou se sabe?
E na lucidez libertar-se
libertando o outro, e é então que genuinamente
se aprisiona ao que lhe faz liberto. Por conectado estar, responsável se dá por livre ser,
comprometido interage em vida e morte - com a vida
e morte. Liberdade emergende que a lucidez
se revela em desenvolvimento nos valores humanos e espirituais, considerando-se
a si e aos outros, como são e ou estão, em "construção".
Fraterno abraço,
Elaine Souza –
SP. 24/04/2012 – 18h10min