DIRETO
PRA CAVERNA (...) QUANDO A DOR PEDE PASSAGEM
O
HIBERNAR SE IMPÕE # NECESSÁRIO
Quando alguém que a gente ama morre em vida...
Quando alguém que a
gente admira definha...
Quando alguém que
nos inspira desparece em vida...
Uma morte física,
mental, emocional ou espiritual.
Algo de louco e sã acontece
em nosso rico mundo interior.
Independentemente
do tipo de morte, gente que é da gente por laços consanguíneos, espirituais,
afetivos ou de humanidade.
A memória afetiva
por vezes preserva com todas as garras as possíveis recordações, experiências e
histórias significativas que conectaram e conectam nossas vidas, quando o “alguém”
faz parte da gente, e sua vida em nossa vida, permanece latente e vibrante. Ora
recolhida por entre a melancolia ou saudosismo, por outra ternamente na
acolhida da tristeza e o afago da saudade com o que fica e o que há.
Diferentes cenários
se apresentam diante a morte em vida, por vezes tão visíveis que gritam aos
olhos de ouvir, e ensurdecem os ouvidos de ver.
Ora agoniza e
grita, ora se faz serenar nos abalos da nossa estrutura...
Tem um pouco de nós
que morre junto, enquanto um outro tanto de nós luta e se debate internamente a
clamar por sua volta e sua vitalidade...
O que dizer do que
parece mais cruel...
Se é que há algo
cruel nestas questões...
A depender dos
tipos de crenças se busca explicações inexplicáveis ou por vezes envereda para
os sistema de culpa, punição e recompensa, oportunidade ou resgate. E tudo bem,
vai dos sistema de crenças de cada um. Eu por ora no meu valor por vezes ressoa
feito desvalores, julgamentos ou consolos dispensáveis, em especial quando a
dor grita, enquanto a boca quer calar, e afastar-se da crueldade a margem.
Ser grata pela
oportunidade de te encontrar ou seria reencontrar?
De corpo e alma não
sei... Pensar em você e nutrir na minha memória viva a primeira vez que te vi,
e tantas outras que pude ter o presente da tua presença.
Sabe quando a gente
encontra alguém que parece que faz parte da gente? Aquela pessoa que você nunca
viu antes, mas te parece tão familiar que você quer continuar perto?
Tudo o que posso
além de chorar enquanto escrevo, é agradecer por sua passagem em tantas vidas,
e na minha!
Falavas do
dispensar aplausos, do sublimar o ego em nome de uma causa maior, da parábola do
semeador, do cuidar da árvore e de seus frutos, do vigiar a árvore frondosa e
recheada de frutos, quando está começa a secar e se perder. Pura indignação e
inquietude quando algo soava deturpação de valores. O chacoalhar certamente foi
uma de suas marcas marcantes por onde semeastes o dar de si. A tua presença de
espírito com a palavra e o ajuste do que requer ajuste. Cada qual tem a sua
percepção, e pra mim você era bravamente doce, firmemente mãos à obra, menos
conversa e mais ação, somos de ação, somos de prática (dizia você). Quem te ouvia com
ouvidos de ouvir, despertava para algo mais. Quem te enxergava com os olhos de
ver, revisitava perspectivas. Em algumas oportunidades te vi chorar e se
emocionar ao falar para além do que dá para segurar. Depoimentos sobre o
aprendizado com a própria vaidade, orgulho e o saber sublimar o ego, do
descobrir-se sendo salvo na oportunidade do servir. Foram tantos encontros
marcantes, que fica para além da saudade mais do que um colar de pérolas raras.
A expressão de que a partir de um determinado grau de maturidade espiritual
compreendemos que ser voluntário, é mais do que obrigação é um dever de
cidadania, em que servir ao entorno faz parte da nossa postura de vida. Se
queremos um mundo melhor precisamos fazer a nossa parte. Ecoa até hoje em meu
âmago, porque faz sentido, e fez sentido, por se um valor!
Nos últimos dias me
observei com algumas questões diferentes e de que algo estava acontecendo.
Ontem por volta as 13 horas senti uma dor no peito, porém não era dor física,
era a sensação de algo se expandindo e me puxando. Além de vibrar e orar, fui
preparar um bolo de cenoura, e depois cuidar da louça. Liguei para minha mãe e
estava tudo bem.
Por volta das 15
horas, ainda comentei com a Creusa, estou sentindo uma dor estranha aqui no
peito, eu estou estranha, acho que tem algo acontecendo.
E assim o dia foi
indo, trabalhei bastante. Depois levei a cia para passear, lanchamos. Me dei a
oportunidade de ver um pouco de TV com a Cia (Benji, Pyuka, Cristal, Duda, Mel
e Juninho), e o Rogerio. E me desconectei do celular, desliguei o mesmo por
algumas horas. Voltei a trabalhar no computador, e então por volta das 21:17 de
ontem houve um apagão na energia por aqui e no entorno, e eu que estava a
trabalhar fui interrompida. Algo me sinalizou que era ora de descansar, um
pouco, contudo eu estava a querer produzir mais. Liguei o celular para iluminar
e me movimentar. Deitei, e acabei olhando e me atualizando com algumas
mensagens no celular. Fazia um tempão que eu não ficava olhando mensagens e
respondendo por conta de estar focada em outras coisas. Enviei um e-mail por
celular e resolvi parar de olhar o celular. Vi que tinha dois áudios de outro
amigo querido, no meu celular. E eu estava sem o fone de ouvido, assim para não
perturbar o sono do Rogerio ou sair procurando o fone de ouvido, pois já estava
deitada. Pensei comigo, amanhã ouço com calma. Já estava a adentrar em estado
de repouso, quando...
A luz voltou por
volta das 00:20, e me veio uma vontade de voltar a produzir, emergiu um sussurro
sobre “cuidar das distrações e seguir em frente”. Pensei comigo tem algo aqui,
e ao pensar sobre distrações que podem me desviar do ideal. Elaine, cuide das
distrações, e siga em frente, temos um objetivo, era o sussurro a me inspirar,
num inspirador e acolhedor caminhar! Algo
me dizia que era para avançar mais. Voltei
ao trabalho e consegui produzir até a 03:00 depois fui cuidar de repousar, pois
o sono já estava presente.
Em tempos de pausas
eis a minha conexão...
Uma das perdas mais
cruéis pra mim foi a forma de partida da minha avó materna, por conta da forma
em que ela foi se despedindo da vida - em vida. Baiana doce e arretada, conservadora e
que não se trocava na frente das pessoas, tinha seu excesso de pudor, e
cuidado, sempre limpa, cheirosa e de cabelos bem postos, sem falar na intensa fé e a sabedoria do viver. Onde estava tinha repente, cantoria, laranja, couve bem fininha, bolinho de chuva trançado, farinha e muita alegria, e bronca tambem Após um AVC passou 05
anos numa cama fisicamente dependendo dos outros para tomar banho, se arrumar,
se pentear, e tudo o mais (e eu pensava comigo como estarão as coisas ai dentro
minha vó querida? – porém por zelo e cuidado nunca toquei neste tema com ela) ,
mentalmente lucida. Permanecia com suas orações e fé, suas palavras de firmeza
e recondução, de puxão de orelha a conselhos. Vem cá minha neta – chegue aqui
(e sussurra algo no ouvido, que calava e dava aquela sensação de você continua
me vendo). Chegou um momento em que ver aquela mulher tão forte, conselheira e
inspiradora pra mim naquele quadro, era de mais. Inicialmente ela tinha medo da
morte. E algo impressionante, sempre banhada e cheirosa, cabelos longos e
grisalhos bem penteados (como ela gostava / fruto do cuidado das minhas tias). E
detalhe, algo admirável, ela se lembrava do aniversário de todo mundo. Linda,
linda! E suas filhas (minhas tias) e grande parte da família não queria
deixa-la partir. Até que resolveu-se liberta-la (isso dentro do sistema de
crenças de cada um), e reconhecer que era melhor deixar que acontecesse o que
fosse o melhor pra ela.
Porque faço está retrospectiva de uma perda inicial em 1999 e que se efetivou em dezembro de 2005, com a perda de ontem? Digo inicial porque pra mim, o quadro em que minha avó foi ficando e cada vez mais debilitada, as dores, as dependências pra tudo, é para mim uma forma de morrer aos poucos.
E para o amigo que
partiu, desde a primeira vez que te vi em 1995, a sensação foi de
reconhecimento, era como se eu estivesse reencontrando alguém especial pra mim.
Assim, o associei desde então a um avô querido. Algo que não sei explicar,
apenas sentir. Então toda vez que ele tomava a palavra eu pensava, fala mais, fala
mais. Feito criança que quer ouvir uma boa história. Da Parábola do Semeador e
intensos depoimentos sobre si, e era lindo ver quando ele se emocionava, e
chorava, ou segurava o choro, ou quando indignado chamava a razão para a ação
do servir. Pessoa enérgica e branda, pra mim.
Observo que pra
mim, o início desta perda com relação a você, foi desesperador. Recordo-me que
estava no trabalho, e este mesmo amigo querido telefonou para comunicar que
você não mais poderia estar conosco num encontro agendado porque havia sofrido
um AVC naquele dia, e era preciso se cuidar e etc. Eu impactada e triste com a
notícia, chorei e vibrei por ti. Minha dor era tamanha, que fui ligar para uma
outra pessoa que achei que tivesse o mesmo apreço, e do outro lado a pessoa
disse: “I?” (Como quem diz e daí?), então desliguei e continuei a ficar comigo,
tentando entender o que cargas d´água estava acontecendo. E ao mesmo tempo eu
estava muito brava comigo. Estava brava porque eu tinha tido sonhos, eu tinha
tido sinais de que era para fazer algo e aproximar antes, porém para não
atropelar pessoas e processos fiquei na espera, até que os “responsáveis”
fizesse o convite. Até que passou um encontro, dois encontros, três encontros e
eu disse, ah quer saber se você não vai fazer, ou vou fazer, algo me diz que é
preciso. Então tudo vinha junto e misturado na minha cabeça. Sabe as conexões
dos sinais, tudo o que está ali gritando e se apresentando? Em meio a tempestade
interior que se apresentou, algum tempo depois a pessoa retornou a ligação se
desculpando pela insensibilidade, assim disse “sei da importância que ele tem
pra você”, é que estava aqui fazendo outras coisas, e nem me atentei. Enfim OK,
já não queria mais dividir, já estava no meu momento de me deixa aqui quieta. Tentando
compreender o inesperado esperado.
E assim há +/- 12
anos fico de longe a vibrar e observar o que acontece, e sentindo a sua falta da
tua presença física tão singular e insubstituível em espaços cuja intenção se
faz para o nutrir a sabedoria coletiva e o servir, e no contraponto
espiritualmente você sempre permaneceu presente enquanto fonte inspiradora pra
mim. Tempos e dias em que sua presença e voz vem contudo e me inspira, e tempos
em que dá uma sumida, assim se passaram os anos na sua ausência física e
presença espiritual no meu mundo mental e memória afetiva.
Sem idolatrias ou
endeusamentos, e sim por reconhecimento, a sua leveza para falar de si, ao
invés de falar como os outros tem que ser. De expor a própria vulnerabilidade e
mazelas, ao invés de impor modelos, o se reconhecer em processo, e ser
testemunho vivo de que o caminho de renovação de faz continuamente.
Quando você
envergonhado ou admirado revelava as suas próprias descobertas, gente que
presente, estar com alguém autenticamente na sua mais sublime vulnerabilidade.
Semana passada por
saber de uma outra notícia que impactou a família, ficamos a conversar por aqui
entre os meus, falamos sobre as coisas inexplicáveis de perdas e danos, e os
impactos e debilidades na saúde e vida das pessoas que passam a definhar em
vida de uma forma que machuca.
Dois dias atrás
sonhei com uma prima querida que sei que sofreu e sente até hoje com a perda da
nossa avó. E no meu sonho ela dançava, e dançava muito. Em sonho eu me
aproximei admirada e disse: que lindo você está livre, voltou a dançar. Isto
porque desde a partida da nossa Tiana, ela não conseguia mais dançar. E no meu
sonho ela dançava muito. Estava leve e solta, saudável e vibrante. Agora
algumas conexões que fiz da energia presente e que se aproximou (...), os
sinais e os valores afetivos a me preparar para sua partida...
Teria sido o apagão
(queda de energia elétrica) da noite mera coincidência ou loucura pensar que a
noite pediu silêncio por algumas horas?
Enfim para o que
conhecemos por aqui, posso denominar tempos de pausa.
Semana passada me
bateu uma produtividade inspiradora maluca, e que eu não conseguia parar de escrever
e produzir, como se estivesse no limite final de algo. No meu campo perceptual
se faziam presente pessoas inspiradoras e servidoras, no vai e vem por entre o campo
mental, sensações, sentimentos e intuições.
E faço esta conexão
com a minha avó porque afetivamente eu sentia o cenário apresentado de anos
atrás - com o desfecho da tua partida
enquanto alívio, sem tirar a dor da saudade por aqui. Pois me era cortante
saber dos desafios e estado de vida atual. No sentido de me esforçar para
buscar explicação para o que é inexplicável aos humanos por aqui. E que
interpretações podem conter moralismos, juízos de valores e julgamentos
pessoais ou doutrinários. Com todo respeito a crença de cada um.
Então mesmo
afastado de nós fisicamente, espiritualmente você continuou sendo fonte
inspiradora de orientação pra mim e certamente para outros!
No sentido do focar
e vigiar distrações. Mensagem compreendida...
Assim, em lágrimas
e emoções, me recordei do que pensei na madrugada.
E se Jota Quest em
“Daqui só se leva o amor”,
remete uma canção que me ajuda a passar pelos cenários que me abalam em perdas
externas - que são perdas espirituais internas ao meu âmago, por outra hoje me
inspira você em Teatro Mágico – O Teatro Mágico - O Anjo
mais velho.
Por ora, um
tempo para o tempo de enlutar pelo “fim do que é belo e incerto – enquanto eu
respirar vou me lembrar de você” ...
Com amor, de
corpo e alma,
Elaine P. S.
M. Souza
Emoções vivas
dentro de mim
Das
páginas do meu diário em SP. 18/08/2020 – 14:14 horas