terça-feira, 13 de dezembro de 2011

INVERTENDO OU RETOMANDO PAPEIS? REVELAÇÕES E ESTADOS - TRANSFORMAÇÕES E FORMAÇÕES

Faz sentido acreditar que na medida em que vamos avançando nos primeiros anos de vida, a nossa forma e meio de comunicar os sinais “verde, amarelo e vermelho”, vão se tornando mais claros. E ao mesmo tempo não se fecham com o “passar dos anos”, há algo além que transcende a idade e tempo cronológico das espécies e de modo cíclico gera renovação.  
Ao nos referirmos à importância de não enquadrar ou procurar radicalmente encaixar a vida e a vitalidade autônoma das espécies simplesmente a idade cronológica; rotulando no simples considerar que quanto mais passam os anos mais seguros gozamos da liberdade da maturidade; é por sentir, intuir e observar, que essas coisas são cíclicas.
Partindo do pressuposto de que podemos ter de modo sincronizado idades diferentes, tais como: idade física (corpo e mente); idade espiritual (sentimento e sensação); idade emocional (maturidade); e idade intuitiva (antecipação dos fatos e ou sinalização dos caminhos). E ainda que a última possa atuar enquanto pêndulo de nós mesmo, nos ciclos sucessivos, que podem se repetir, se renovar ou não.
Refletindo sobre os ciclos da vida e os aspectos de conservação, autonomia, auto-realização e socialização, que Carl Rogers enquanto precursor da Abordagem Centrada na Pessoa elucida nos aspectos da Tendência ao Desenvolvimento, intuímos algo que transcende a idade física, espiritual, emocional e intuitiva.
Respeitamos aqueles que consideram, elucidam e ou de algum modo co-relacionam a idade cronológica, enquanto fator determinante e principal ao nosso desenvolvimento psicológico e humano. E compartilhamos o que nos coloca a prova por sentir e intuir que existe uma diversidade de “e ou, e também”, revelando que nem tudo se fecha ou se define  necessariamente no atrelar da nossa idade cronológica.
No intuito de partilhar o que se baseia em percepções e constatações pessoais, experiências e oportunidades vivenciadas, eis uma significativa e marcante experiência, que extraímos das páginas marcadas do nosso diário. Na percepção de que os papeis mudam, se transformam, se renovam e também e se repetem possibilitando novas oportunidades, descobertas e aprendizado.  

Ano de 1995, dialogando com um querido amigo que já beirava os 70 anos de idade, enquanto eu era recém chegada aos 20 anos, sobre sua saúde e os desafios de adaptação ao novo estilo de vida.

Naquela manhã de segunda-feira, algo estava diferente no semblante do Amigo, e numa explosão emocional, ele esbravejou assustado o desabafo contido.
(Amigo) - É minha amiga num dia somos pais e no outro nos tornamos filhos dos nossos filhos. Estou assustado com isso.
(Elaine) - É mesmo? Do que é que você esta falando?
(Amigo)- Ora veja minha amiga, desde que descobrimos esse problema no coração, minha filha fica me controlando. Ela quer saber a hora que saio, a hora que volto, não quer que eu trabalhe mais. Telefona pra saber se peguei o agasalho, pra saber se tomei o remédio. Outro dia fomos atravessar a rua e ela segurou minha mão. Sou eu que sou o pai, e até outro dia ela era uma criança, e eu e minha falecida esposa que cuidávamos dela!
(Elaine) - Ah, acho que estou compreendendo. Agora, você sente como se tivesse virado criança e ela o adulto. Você o filho e ela a mãe a querer te proteger, sem perceber que esse controle todo está gerando mal estar em você?
(Amigo) – Nossa é exatamente isso amiga! Parece até que voltei a ser filho. E o mais assustador que minha filha, passou a ser minha mãe. E ela não percebe que trabalhar é minha vida, é o meu viver. O que vou fazer se não posso mais trabalhar? Sei que ela me ama e só quer cuidar de mim. Porém fico entristecido e incomodado. Não quero ser mal agradecido, só  esse cuidado todo, desse jeito, esta me fazendo é mal, sufocando, me sinto uma criança, quando já fui homem feito, filho, marido, pai, avô.  Não sei como dizer isso a ela, não quero magoá-la, mas tenho minha vida, e ao mesmo tempo por mais que me doa vou percebendo que cada dia mais, eu preciso dos cuidados dela.
(Elaine) – Quando você fala percebo algo assim: é o estar sentindo e percebendo a sua vida toda sendo mudada e alterada sem o seu consentimento. Depois de tornar-se adulto, e passar do papel de filho para o papel de pai e avô; você se surpreende ao sentir-se retomando o papel de filho, e assustadoramente filho da sua filha de modo inesperado. Há uma sensação de invasão e controle, ao mesmo tempo zelo e cuidado, que lhe é assustadora e incomoda. Ao mesmo tempo o reconhecer que precisa dos cuidados da sua filha o misto de tristeza por se ver nessa condição de dependência indesejada mediante aos aspectos da sua saúde e das debilitações e o alivio de poder contar com ela. Tristeza por sentir de algum modo a vitalidade e autonomia conquistada se esvaindo e alivio por poder contar com o cuidado da sua filha. E o conflito que ressoa na angustia de que nem sempre o cuidado e à forma desse cuidado, respeita sua autonomia do ir e vir e trabalhar. De algum modo o controle dos seus passos e modo de vida é desconfortável e inesperado, no sentido de sentir sua liberdade e autonomia sendo tolhida. O sentir-se assustado e temeroso no não querer magoar sua filha, acaba de algum modo por magoar a você, e tudo isso lhe deixa assustado. É algo assim? 
(Amigo) - Nossa é exatamente isso. E assustado? Bota assustado nisso, já havia desaprendido a ser filho. Sou pai e autônomo há muitos anos. Agora me vejo obrigado a reaprender a ser filho, e ainda por cima ser filho da minha filha. É minha amiga, por isso que digo num dia somos filhos; no outro somos pais; e depois passamos a ser filhos dos nossos filhos, até para atravessar a rua. E o que fazer da minha vida, se não poder trabalhar mais? Qual o sentido de tudo isso? Voltar a ser criança, porém um adulto dependente de outro adulto, que até outro dia era nossa criança e filha? (...)

Que manhã de segunda-feira sensível e rica em aprendizado através do rico e profundo diálogo. Aqueles cristalinos olhos azuis e cabelos de algodão, as mãos trêmulas, revelando os receios com as descobertas da debilidade da saúde e sua clara sinalização de que o fato de voltar a ser cuidado por alguém era mais do que alarmante, assustador.
Era possível sentir em nós, o que se passava com o querido Amigo. Sim o receio, a dor, e luta interior no processo fatal que já se impunha e escancarava-lhe a necessária adaptação ou readaptação a uma nova forma e condição do seu viver e existir. 
  • A dor e receio ao sentimento de inutilidade e do sentir-se incompreendido ao lhe ser tolhido o desejo, direito e vontade de trabalhar;
  • O sentir-se perdido e amedrontado com a nova forma, estágio e condição de vida.
  • O sentir-se invadido e ao mesmo tempo cuidado;
  • O receio de magoar a filha e ao mesmo tempo a vontade de demarcar seu espaço.
Uma imensurável lição de vida, numa vida ali a se revelar através da voz do coração de um amigo, que nos fez enxergar e refletir sobre essa coisa de “um dia sermos filhos, depois pais, depois filhos dos filhos, e depois pais dos nossos pais”.
Ainda bebês, quando nos sentimos ameaçados, invadidos, contrariados, com interferências desnecessárias ou indesejadas, isso gera uma pane em nosso sistema e assim também no  sistema do outro.
Ao menor sinal de ameaça, reagimos prontamente e imediatamente; quer seja abrindo o berreiro, ficando doente, fazendo emergir uma alergia, e etc. E conforme vamos ficando mais velhos vamos encontrando outras formas de ser, estar e nos posicionar.
Nosso mecanismo defensivo deseja atingir um mesmo objetivo independente da fase e estágio de vida “equilíbrio e respeito ao nosso espaço interior e exterior”. Não sendo necessariamente o nosso tamanho físico ou a nossa idade um fator de limite, e sim talvez de limitação.
A limitação pode se dar no determinar o quanto conseguimos ou não nos impor, demarcar território, sinalizar desconfortos, dominar o outro ou ser dominado pelo outro, nos comunicar; comunicar os simples ou intensos incômodos. Guardadas as devidas proporções, a contínua busca do equilíbrio entre limites e limitações.
Aqui nos referimos muito mais a outras inteligências já descobertas, apontadas e pontuadas, para além da inteligência racional, física, espacial e motora. Algo que transcende a força do corpo físico, algo que nem sempre conseguimos enxergar dada a tamanha luminosidade.  
O Deslumbrante e encantador sentir nossas potencialidades, capacidades e criatividade, tão latentes, desde o momento em que a energia vital, nas artimanhas e manhas da natureza, se manifesta e se revela desde o inicio do processo formativo de cada Ser. Revelando-nos a nós e a todos, num mágico movimento de preservação e multiplicação da espécie.
A mágica sincronia que promove o encontro de dois seres, para que se dê a fecundação. E qual o mistério e sentido para toda existência, fluir na interação de espécies e seres,  demonstrando que de algum modo as relações e o relacionar-se se faz presente e latente, na essência e naquilo que é essencial a vida?
Muito antes da fecundação, olhando apenas para a natureza e seus ciclos, observamos a existência de um movimento, um clima, um processo preparando a Vida na Vida, para gerar, multiplicar e preservar a Vida e suas diferentes Espécies.
Um processo dinâmico que muito antes da fecundação já se dá  e se revela através dos mais  diversos processos sincrônicos espreitando novas possibilidades para gerar e ampliar a vida. E logo já estamos a provocar uma série de interferências no corpo físico, emocional e espiritual de outros seres.
Muito, muito antes de sairmos do útero, já criamos movimento, já estamos também a interferir e interagir com outras vidas e outros seres.  Então como é que podemos pensar que não interferimos na vida de ninguém e que ninguém interfere na nossa vida?
Talvez existam diferentes formas de interferências, freqüências e interações e nesse paradoxo fatores nocivos e fatores saudáveis, porém todos no mover-se no misterioso equilíbrio e reequilíbrio de nós mesmos, do outro e do sistema orgânico da vida.
Na amplitude do sentir, intuir e pensar o fluir das sensações e emoções que nos sinalizam no mistério a clareza, e na clareza o mistério que não nos limita ou se faz limitar isoladamente através do tempo cronológico.
  • Pessoas que nos primeiros anos de vida já se apresentam mais marotas, descontraídas, sedutoras, envolventes, sociáveis, autônomas, determinadas, livres e risonhas;
  • Pessoas que nos primeiros anos de vida já se apresentam mais contidas, retraídas, reservadas, dependentes, inseguras, isoladas, presas e amarguradas;
  • Pessoas que com o passar dos anos se apresentam menos descontraídas, livres e risonhas;
  • Pessoas que com o passar dos anos se apresentam mais envolventes, leves e criativas;
  • Pessoas doces e gentis, que experimentam do amargor da vida, passam a ser amargas e num dado clarão, redescobrem a doçura da vida e a doçura dentro de si.
  • Crianças que antes dos primeiros passos já se impõe e se revelam autônomas. Depois menos autônomas, no tempo retomam sua auto-realização e autonomia ou não.
  • Adultos autônomos, realizados, determinados e mais sociáveis, que em dado momento de vida se revelam reclusos, dependente e fechados e vice versa.
  • Crianças na idade cronológica que se revelam adultos “ranzinzas”.
  • Pessoas que confundem cara feia, com seriedade e responsabilidade, e camuflam nessa as inseguranças e incertezas do si mesmo.
  • Adultos que voltam a revelar-se e apresentar-se no ser criança, mais livres, risonhos, descontraídos a valorizar, curtir e degustar as coisas mais simples. Enxergando beleza e mágica em tudo ao seu redor, apresentando-se em estados de plena e continua curiosidade e prazer do viver.
No processo as descobertas e o reconhecer bebê, criança, pré-adolescente, adolescente, juvenil, jovem, adulto e velho, no mover-se a descobrir a diferença entre ser criança e ser infantil, ser adulto e ou velho e ser maduro.
Os aspectos sutis e gritantes entre infantilidade e maturidade que transcende aos aspectos cronológicos. Ora contudo, não definem por si só, os estados de dependência, independência e interdependência.
Limites e limitações do corpo e da mente no campo dos sentimentos, sensações, emoções, pensamentos, ações, em que podemos ser e estar, nos apresentar mais ou menos dependente, independente ou interdependente. Revelamos-nos de diferentes formas simultaneamente, nas mais diversas áreas e papeis sociais; e nas nuances da idade física, espiritual, emocional e intuitiva.

Com Pureza,
Abraço forte e acolhedor,
Por Elaine Souza – SP. 02/12 - 13/12/2011 – 21h58min

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